sábado, 30 de julho de 2011

Só por hoje

Hoje vou levantar de manhãzinha sem reclamar se o sol cismar de nascer mais quente. Quero colocar uma roupa fresca e abraçar a vida.
Hoje vou sair de casa e meu dia de trabalho será produtivo. Vou dizer “bom dia” desejando verdadeiramente que o outro tenha um dia bom. Só por hoje vou esquecer a tristeza dos ontens, apagar da memória o nome daqueles que me passaram uma rasteira. Hoje não vou lamentar pelas pessoas que me deixaram, pelos poemas que ninguém me escreveu, pelo fim de semana que acabou chovendo.
Hoje vou olhar as azaléias no canteiro junto ao portão e contempla-lás.
Quero ouvir uma canção que fale de felicidade, quero batom carmim.
Um copo de suco de abacaxi.
Hoje vou revirar na gaveta a procura de uma fotografia antiga, um cartão postal, um bilhete amassado. Quero que a poeira das lembranças desperte em mim uma pitada de saudade. De saudade boa capaz de me arrancar um sorriso.
Hoje antes que termine o dia, quero o Russo me cantando estórias de amor, quero hoje ainda reler meu soneto preferido, terminar meu pote de Nutella, conferir meus e-mails, rir novamente de uma piada velha.
Hoje quero ir embora a tempo de celebrar o sol se pôr, vou sonhar o lusco-fusco do entardecer e esperar a escuridão chegar. Hoje não vou permitir que o preto da noite me deixe de luto. Quero debruçar na janela e ouvir o som de insetos. Ouvir o som da cidade. Ouvir o externo antes que a minha essência vire vulcão. Hoje vou contar meus segredos para a lua.
Ainda que amanhã eu volte a usar a armadura, por hoje vou ser feliz.
Feliz agora, pois, não é mesmo este instante a única coisa que me pertence?
Pode ser que amanhã eu me entristeça por uma ligação não recebida ou uma discutição no trânsito.
Pode ser que amanhã eu me amargure por ter me permitido ser tão feliz hoje.

domingo, 24 de julho de 2011

Instantâneo

Férias de julho.
O que você fez? Normalmente fazemos uma viagem. Alguns podem dormir mais cedo outros acordarem mais tarde. Férias: tempo extra!
Terminar aquela literatura já iniciada, visitar a família em outro estado, pedalar.
Há quem descanse, há quem continue estudando, há quem faz tour pelos bares da cidade.
Colocada as considerações,
as minhas férias de julho seriam 'comum-mesma-igual' a outras tantas [tédio] não fosse o beijo na boate, a troca de telefonemas, o açaí, o crepe, a expectativa. Aá, se não fosse à expectativa de amor.
Nas minhas férias de julho eu vivi um meio-romance.
Meio porque não teve início e nem teve fim. Teve sorriso, teve piada, apelido, jogo do Brasil, beijo de madrugada.
Teve cerveja em apenas um copo, strogonoff em apenas um prato, mãos dadas.
Teve tanto, mas não teve nada.
O cenário ideal, mas com os personagens errados.
Tudo para florescer, mas morreu.
Foi um duelo entre o otimismo da “Pollyana Moça” versus o pessímismo de Murphy.
Foi o grito dele que não suportou meu silêncio.
Foram desentendimentos por telefone, aquele abraço mal dado [pulado] no amigo.
O sorriso dele atrapalha a minha dor. A minha dor atrapalha o sorriso dele... mas eu não deixo de senti-lá, assim como ele seguiu sorrindo.
Hoje é o ultimo dia das férias de julho.
E, melhor que uma viagem, um livro, outra cidade...nesse mês convivi com um cara legal. E descobri que gosto de palmito, Pearl Jam e colarinho de chopp.

domingo, 17 de julho de 2011

Hello Kitty

E se pudesse começar tudo de novo?
O mesmo cenário:
Na beira da lagoa onde a brisa do sereno pedia abraço. Era madrugada sem luar, ao som dos violões. Seus olhos dedilharam em mim duas ou três canções.
A gaita que antes só existia na fotografia, naquela noite, ouvi-la cantar. E seu assopro calculado produzia o som que há tempos eu queria escutar.
O cara mais legal do mundo. Cabelos bagunçados, um anel usado no dedo errado.
Casaco preto, um linguajar meio americanizado. Com o violão, dedilhou um canto; cintilou encanto.
Bebida, luar, canção e Chocotone. Chocotone sim era véspera de natal. Ou pós-natal, não sei.
Sei que o gosto prolongou ao réveillon. A primeira ligação recebida em 2011, O primeiro ‘feliz-ano-novo’.
Como eu queria voltar no tempo. Não para alterar a lagoa, a ausência da lua ou o chocotone.
A única peça com defeito era eu. Maça estragada. Nenhum sorriso, nem um pouco simpática.
Há palavras em mim que ficaram por falar. Há piadas que perderam o contexto, há uma vontade grande de esclarecer que a minha voz é ativa, que meus passos não são controlados por ninguém.
Aconteceu que no momento de falar a minha voz não saiu, sino que não timbrou.
Que no instante de colorir aquela tela que até então, branca, eu: amedrontei.
Seus cabelos desalinhados não foram o que impediram mais um beijo. Foi à força do meu silêncio, a fase que ele surgiu não me era adequada.
E eu guardei tanto pra mostrar que ele foi embora e não me conheceu.
E você veio. E você foi.