quinta-feira, 22 de julho de 2010

Me reconheça

Agora eu quero sair. Fim de jogo, encerrado papo.
Já fiz meu papel, cumpri com o combinado. Que fique um pouco de mim.
Agora vou ir embora. Vou deixar que você procure o caminho de seguir, a esquina pra virar, a porta que vai entrar.
Pense em tudo que aprendeu. Ensinou, aprendemos. Corra sobre a estrada que desenhamos, não perca o caminho, não atalhe, não volte atrás.
Já vou indo, e não vou voltar. Você também não voltará. Quem volta é quem não sabe andar. Ainda vamos nos encontrar mas, não aqui, nem no ontem. Nosso encontro ainda esta por vim. E não seremos nós. Seremos o que nos transformarmos. Vou ver você ser você sem mim.
Enquanto isso vou me mudar de casa, trocar de perfume, pintar meu cabelo.
Vou ouvir você falar dos amores, das viagens, dos sabores. Vai me contar o que descobriu.
E depois, quando por fim, nos encontrarmos: Me reconheça.
Já estou esperando nosso reencontro. Agora, vou.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Comum.

Um fim de semana comum, uma festa comum.
Eu estava ansiosa mesmo era para conhecer o som daquela banda de rock. Não é que tocaram Legião.
Fiquei em uma parte mais alta daquela estrutura do show e de lá tinha uma vista melhor de quem estava curtindo a festa.
Juro, se você não estivesse me olhando tanto, talvez nem te notado eu teria.
É que minha intenção aquela noite era mesmo só beber e curtir o rockzinho.
E ele me olhava, mas eu também olhava para ele.
Cada olhar um gole na bebida, eu não queria ficar bêbada, mas queria beber. Queria olhar.
Sabe, a sua camisa azul foi ficando branca e depois azul, e ficava preta e voltava a ser azul.
A música tocando e naquela dança de olhares a minha bebida acabou. E eu precisava de mais, precisava continuar aquela recíproca.
Mas que infeliz situação: Se eu saísse perderia ele de vista e ainda deixaria o ar de não querer saber se a camisa era azul ou preta com branco.
Vou, não vou; vou ou não? FUI.
Passei perto dele, do lado.
E para arrepiar minha expectativa, estremecer a minha vértebra, ele segurou meu braço, se aproximou do meu ouvido e disse: 'Não vai embora não.'
Eu sorri e continuei andando.
Tive vontade de saber o nome dele, o endereço e a profissão.Qual seria o seu perfume?
Foi um fim de semana comum, uma festa comum, mas também foi divertido andar de mãos dadas com ele. Buscar bebida, dançar.
Enfim, o que gostei mesmo foi que no outro dia ele também lembrou. Lembrou a cor do meu vestido.

Relicário

Texto escrito em: 13 Junho 2008

Ninguém sente essa dor. Ninguém vai mesmo se preocupar.
Não queria ter ficado sozinha, aqui o frio me abraça. Queria seu cheiro de volta. A nossa música o tempo todo toca. Meu peito angustiado agora quer ficar calado. Um tempo apenas para relembrar. Deixar na memoria o que pertence ao passado.
Sua voz como um grito mudo, um livro branco, um jornal sem notícias. Esse medo vai me perseguir. Não vejo mais estrelas, não busco mais por borboletas. procuro sim por uma caixinha de amor, deve estar com você. Minhas coisas estão com você. Meus dias, meus sentidos, minha vida. Vou caminhar em busca do passado.

Não, não era amor.

Que tal uma viagem de três dias para uma cidade distante e maravilhosa?
E o que acha de ir você e mais um ônibus com jovens estudantes?
Parece diversão garantida.
E foi. Foi o fim de semana de inverno mais independente que já tive.
Quantas novas amizades, quantas história pra contar. Quando desci do ônibus, quase tudo ficou para trás.
Você tinha mesmo que ter se sentado na poltrona ao lado da minha? Por causa disso passei os três dias pensando em você.
Adorei rir das suas piadas. Rir das suas rizadas.
Com tanta gente nova naquela cidade distante e maravilhosa foi ele. Que irônico. Moramos na mesma cidade, poderia ter lhe conhecido no trânsito de qualquer segunda-feira, no supermercado de manhã, na fila do banco... Mas não, fui saber da sua existência logo naquela viagem. Na viagem mais independente que já tive.
Durante o dia eu caminhando por aquela cidade conheci pessoas de todo canto do estado. Norte a Sul, Leste e Oeste. Vários sotaques também. Mas vejo só, fui gostar da sua voz alta e grossa. E as suas girías engraçadas. Só você falava. Falava claro, jogava limpo. Não escondia nada.
Até contou uma história que eu preferia nem ter escutado.
Me pediu para olhar nos teus olhos mas não olhei. Queria sim me lembrar dessa historia, mas não com detalhes.
Durante aqueles três dias, eu amei você.
Mas não era amor. Tentei definir o que era e Martha Medeiros mais uma vez me ajudou quando disse: ' Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesmo naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era inverno. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor.'
Um amor de inverno que terminou no inverno. E quando desci do ônibus você não existia mais. Nada de trocar número de celular, e-mail. Isso poderia estragar. Tudo deveria acabar alí.
Ainda não te vi no trânsito de nenhuma segunda-feira, nenhuma terça, nenhum domingo.
Ainda não te vi no supermercado e nem na fila do banco.
Se não fosse a viagem ainda não teria te conhecido. Talvez ainda não conheci mesmo, e a minha historinha de amor tenha sido com o carinha do ônibus e não com você.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Demitida de mim



Tarde de quarta-feira.
A porta aberta me chamava para sair.
Papel e caneta, então escrevi. Eu, me despedindo de mim:

‘Não consigo enxergar. Onde está? Camuflada dentro de si ou dentro de mim?
E os olhos não transmitem mais a ternura e a leveza. E a voz não soa mais naquele ritmo suave e delicado. Continuo achando que se escondeu de mim. Se escondeu em mim. Espero que ainda exista, mas não acredito.
Quanto aos sonhos que tinha: Desistiu de sonhar ?
E os amores eternos, os amigos de infância, o cheiro da primavera...
Porque contou segredos? Porque esqueceu aquela canção?
É melhor mesmo que eu vá. Quanta desordem encontrei aqui.
Vou embora, abandonar tudo que tentei construir.
Quando é que vai saber separar, dividir, distanciar? Não queria te ver assim.
Fique com o que sobrou. Esse gosto mofado na mordida. O peso da saudade escondido na solidão. Te suporte sozinha. Não quero ouvir seu grito nem responder por suas decisões.
Chega. Esgotei, explodi! E você: Demitida de mim. Sem direito a décimo terceiro, férias ou coisa assim.’

Pauta para o Bloínquês
1ª edição de cartas.