terça-feira, 1 de maio de 2012

Se fosse, já era.

Tem gente que bate os olhos e na primeira vista se apaixona e quer casar, quer ter filhos, sítio... até a eternidade.
Tem gente que bate os olhos nos olhos e no outro dia os olhos na boca e dali a um mês, os olhos no coração e se apaixona, e quer casar, escolhe nome dos filhos, compra um sítio... é feliz até a eternidade.
Mas com alguns o amor demora ainda mais pra chegar.
Vão meses, até anos e as pessoas dizem que o tempo, a convivência, o costume é o que faz a gente gostar e querer os filhos e a eternidade.
Há quantos meses nesse rola-enrola, três? quatro?
Se fosse pra ser, já era.
Eu quero é olhos nos olhos, filho e sítio.
Sentimento até que vem com o passar das segundas-feiras, com a troca de SMS, com a cumplicidade. Mas esse sentimento parece laranja temporona, forçada, espremida pra sair.
Quando é pra ser, é natural. É imã que te puxa e me arrasta também.
Quando é pra ser, dá vontade de ser todo dia, fazer carinho, contar só a verdade e não querer mais ninguém.
Se fosse pra ser, já era. É por isso que conosco é morno, é passado, é vencido; é porque já era pra ter sido mas não foi.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Eterno


Ouvi uma frase e fiquei mastigando-a durante dias: “O amor eterno é feito de quietude e saudade”. Achei bonita, achei real.

“Quietude e saudade”, que mais na vida se encontra além de sentimentos passageiros, momentos turbulentos, aflição de espírito? O que de duradouro e concreto que não se líquida com o passar dos anos?

Pensando assim, o eterno mora na tranqüilidade de pescar da lembrança aquilo que não o é mais em si, não mais possui formas em matéria, em presença, em afeto... o eterno esta na capacidade de fazer-se sentir saudade do que um dia fora.

“Quietude e saudade”, confirmação plausível de que não perdemos as pessoas, não perdemos o que alguém querido representou, não perdemos a companhia, as histórias, as lembranças... Aquele fim de semana na fazenda, não se perde nunca. Há em mim, pessoas eternas que me seguiram por toda a vida por causa do amor.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sem receita

4:30 da manhã, morta.
Cheguei tarde não porque a festa estava boa, mas porque eu passei a noite toda tentando entrar na fôrma.
Aquela festa de ontem me fez comprovar o que eu já desconfiava.
Tinha vokda, cerveja, show... As pessoas dançavam. Eu não gosto de dançar.
Um sujeito deixou cair algum liquido não identificado no meu vestido e eu fiquei nervosa, não suporto tumulto, empurra-empurra, lotação.
Todos sorriam e pareciam felizes e eu tive que desenhar um sorriso na boca e fingir ser como eles.
Tinha uma mulher à esquerda do bar encostada na parede, e quando ela deu uma risada eu quase vi o esôfago dela. Do que ela estaria rindo?
Eu ria, mas por fora. Por dentro eu queria sair correndo dali, jogar meu copo de cerveja longe e ir pra casa curtir meu autismo.
Eu gosto de pessoas, mas não quando elas querem ser todas iguais, ontem eu não estava gostando de mim.
As pessoas querem ser iguais as outras que são iguais a outras as quais jamais se deixam ser o estranho particular que cada um tem. É parecido com receita de bolo que a avó escreve num caderninho rabiscado: 3 ovos, farinha, fermento coloca no tabuleiro quadrado, aquele 30x20cm que é a fôrma exata e pronto, um bolo igual aos outros.
Eu não quero mais tentar entrar na fôrma. Não vou fingir que estou gostando se eu não estiver gostando. Só vou sorrir por fora quando eu estiver feliz por dentro.
O fantástico da vida é logo isso: a possibilidade de sermos diferentes, eu lá vou deixar de me ser pra tentar ser igual aos que nada são?
Não tem porque tentar criar um padrão, não há receita para a felicidade. E se houver uma receita ela é tão somente individual, tão somente de cada um que não vai funcionar com o outro.

sábado, 30 de julho de 2011

Só por hoje

Hoje vou levantar de manhãzinha sem reclamar se o sol cismar de nascer mais quente. Quero colocar uma roupa fresca e abraçar a vida.
Hoje vou sair de casa e meu dia de trabalho será produtivo. Vou dizer “bom dia” desejando verdadeiramente que o outro tenha um dia bom. Só por hoje vou esquecer a tristeza dos ontens, apagar da memória o nome daqueles que me passaram uma rasteira. Hoje não vou lamentar pelas pessoas que me deixaram, pelos poemas que ninguém me escreveu, pelo fim de semana que acabou chovendo.
Hoje vou olhar as azaléias no canteiro junto ao portão e contempla-lás.
Quero ouvir uma canção que fale de felicidade, quero batom carmim.
Um copo de suco de abacaxi.
Hoje vou revirar na gaveta a procura de uma fotografia antiga, um cartão postal, um bilhete amassado. Quero que a poeira das lembranças desperte em mim uma pitada de saudade. De saudade boa capaz de me arrancar um sorriso.
Hoje antes que termine o dia, quero o Russo me cantando estórias de amor, quero hoje ainda reler meu soneto preferido, terminar meu pote de Nutella, conferir meus e-mails, rir novamente de uma piada velha.
Hoje quero ir embora a tempo de celebrar o sol se pôr, vou sonhar o lusco-fusco do entardecer e esperar a escuridão chegar. Hoje não vou permitir que o preto da noite me deixe de luto. Quero debruçar na janela e ouvir o som de insetos. Ouvir o som da cidade. Ouvir o externo antes que a minha essência vire vulcão. Hoje vou contar meus segredos para a lua.
Ainda que amanhã eu volte a usar a armadura, por hoje vou ser feliz.
Feliz agora, pois, não é mesmo este instante a única coisa que me pertence?
Pode ser que amanhã eu me entristeça por uma ligação não recebida ou uma discutição no trânsito.
Pode ser que amanhã eu me amargure por ter me permitido ser tão feliz hoje.

domingo, 24 de julho de 2011

Instantâneo

Férias de julho.
O que você fez? Normalmente fazemos uma viagem. Alguns podem dormir mais cedo outros acordarem mais tarde. Férias: tempo extra!
Terminar aquela literatura já iniciada, visitar a família em outro estado, pedalar.
Há quem descanse, há quem continue estudando, há quem faz tour pelos bares da cidade.
Colocada as considerações,
as minhas férias de julho seriam 'comum-mesma-igual' a outras tantas [tédio] não fosse o beijo na boate, a troca de telefonemas, o açaí, o crepe, a expectativa. Aá, se não fosse à expectativa de amor.
Nas minhas férias de julho eu vivi um meio-romance.
Meio porque não teve início e nem teve fim. Teve sorriso, teve piada, apelido, jogo do Brasil, beijo de madrugada.
Teve cerveja em apenas um copo, strogonoff em apenas um prato, mãos dadas.
Teve tanto, mas não teve nada.
O cenário ideal, mas com os personagens errados.
Tudo para florescer, mas morreu.
Foi um duelo entre o otimismo da “Pollyana Moça” versus o pessímismo de Murphy.
Foi o grito dele que não suportou meu silêncio.
Foram desentendimentos por telefone, aquele abraço mal dado [pulado] no amigo.
O sorriso dele atrapalha a minha dor. A minha dor atrapalha o sorriso dele... mas eu não deixo de senti-lá, assim como ele seguiu sorrindo.
Hoje é o ultimo dia das férias de julho.
E, melhor que uma viagem, um livro, outra cidade...nesse mês convivi com um cara legal. E descobri que gosto de palmito, Pearl Jam e colarinho de chopp.

domingo, 17 de julho de 2011

Hello Kitty

E se pudesse começar tudo de novo?
O mesmo cenário:
Na beira da lagoa onde a brisa do sereno pedia abraço. Era madrugada sem luar, ao som dos violões. Seus olhos dedilharam em mim duas ou três canções.
A gaita que antes só existia na fotografia, naquela noite, ouvi-la cantar. E seu assopro calculado produzia o som que há tempos eu queria escutar.
O cara mais legal do mundo. Cabelos bagunçados, um anel usado no dedo errado.
Casaco preto, um linguajar meio americanizado. Com o violão, dedilhou um canto; cintilou encanto.
Bebida, luar, canção e Chocotone. Chocotone sim era véspera de natal. Ou pós-natal, não sei.
Sei que o gosto prolongou ao réveillon. A primeira ligação recebida em 2011, O primeiro ‘feliz-ano-novo’.
Como eu queria voltar no tempo. Não para alterar a lagoa, a ausência da lua ou o chocotone.
A única peça com defeito era eu. Maça estragada. Nenhum sorriso, nem um pouco simpática.
Há palavras em mim que ficaram por falar. Há piadas que perderam o contexto, há uma vontade grande de esclarecer que a minha voz é ativa, que meus passos não são controlados por ninguém.
Aconteceu que no momento de falar a minha voz não saiu, sino que não timbrou.
Que no instante de colorir aquela tela que até então, branca, eu: amedrontei.
Seus cabelos desalinhados não foram o que impediram mais um beijo. Foi à força do meu silêncio, a fase que ele surgiu não me era adequada.
E eu guardei tanto pra mostrar que ele foi embora e não me conheceu.
E você veio. E você foi.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Verdadeiramente esporádico


Não, não é amor. Espera aí.. Mas e se fosse?
Porque não arriscar: topa?
Lembra do começo? Quando os olhares eram indiferentes e os beijos iguais. Os beijos. Quentes, assumo, porém destemperados.
E as borboletas dançavam no meu estomago ao som do toque do meu celular, que hora tocava nas Quintas, outrora nos Domingos. Ligações inesperadas confirmavam a sua vinda. Ou a minha ida. E eu te amava enquanto o encontro acontecia. No outro dia nenhum vestígio, nenhuma palavra bonita boiando no pensamento. Nada lembrava você. Nenhum plano. E ambos se esqueciam de pensar ‘o que seria aquilo que dispensava reflexão?’... Enfim, dispensava reflexão. E nem expectativa tinha para uma nova ligação.
As borboletas nasciam e morriam gradativamente.
Tinha tudo pra não dar certo. E não deu. É claro que o sentimento ia brotar. De alguma parte ele veio súbito e brusco porque éramo-nos certos quanto à dispensa da reflexão. Mas poderia ser previsto por qualquer que soubesse da intensidade, da intimidade, da cintura que possuí o formato exato da mão. Qualquer que soubesse de meia dúzia dos segredos. Das madrugadas, do café da manhã. Do chocolate branco que até hoje não foi mordido.
É claro que o sentimento ia brotar. Brotou, contudo de intrometido, foi que nasceram também algumas pragas: um medo inédito. Alias dois.
Um medo meu e um medo seu. O meu, medo de praxe, desses costumeiros que todo mundo esconde. Medo de cheirar perto pra reconhecer se bom ou ruim. O medo de escapulir alguma evidencia de amor. O medo de um golpe, uma facada traiçoeira. O medo obscurecido pela insegurança. O tradicional medo de confessar o evidente. Acredite, o amor pode ser vilão, neste contexto, o medo paga o pato.
Quanto ao seu... Melhor não arriscar a descrevê-lo. Não me perdoaria um equivoco. Sei que medo, enfim.
Duas semanas sim, uma semana não. Uma semana sim, uma semana não. Uma semana sim, uma semana sim. Seis meses sim, sete meses sim. Creio que se te amei foi tão verdadeiramente esporádico de tal forma que é impossível distinguir quando o foi realmente.
E agora? Para onde vai você? Para onde deverei seguir?
Não há como pegar o líquido nas mãos e segurar como se sólido fosse.
E nos sempre fomos líquidos, compreensivos, transparentes. E o amor não deixará de ser assim picotado, repartido entre os dias sim e os dias não, até o momento em que outra luz mais forte, cintilar a sua grossa camada indelicada e adentrar por você a fora. Acredito que com essa mesma intensidade, em mim também outro riso ainda mais alto que o seu, far-me-á desengasgar esse silencio que trago preso aos olhos.
E vai ser assim o nosso fim. Desfalecido desde o primeiro instante. E assim vai acabar o amor que não brotou por culpa das pragas. Ervas malditas, que me impediram de sonhar. Você, o imperfeito, torto, mocho, leviano. O único que ouviu as mais sinceras palavras no meu silencio inabalável.
Ainda dispenso a reflexão e você o faz também quando ao fim do meu discurso apenas diz: I don’t have words about this.